quarta-feira, 30 de março de 2011

DNA do café tem "dupla personalidade" - Colaboração do leitor


ARTIGO ENVIADO POR NOSSO LEITOR


nucoffee

 Estudo brasileiro mostra que ancestral esquecido do cafeeiro é principal responsável por qualidade da bebida
Fenômeno se dá porque vegetal é híbrido, com genoma duplicado; com dados, estratégia de melhoramento muda

      A chave para produzir um café ainda mais saboroso do que o disponível hoje provavelmente está no DNA de um dos ancestrais do cafeeiro, uma plantinha hoje desprezada pelos agrônomos por ser frágil e difícil de cultivar.

      É justamente essa espécie, a Coffea eugenioides, a responsável por legar aos frutos do cafeeiro mais cultivado comercialmente as características mais cobiçadas, como o alto teor de açúcares.

    Num estranho caso de dupla personalidade biológica, os genes da ainda se manifestam de forma independente no organismo da planta cultivada.

      Isso porque o C. arabica, cafeeiro mais comum no planeta hoje é um híbrido, resultado do cruzamento natural entre a C. eugenioides e outra espécie, a C. canephora, há cerca de 1 milhão de anos.

      "Sabe quando a gente diz que Fulano tem os olhos da mãe e o nariz do pai? É mais ou menos isso, só que depois de um número muitíssimo maior de gerações", explica Gonçalo Guimarães Pereira, pesquisador da Unicamp.

      Pereira é um dos autores de dois mapeamentos recentes sobre os genes ativos no C. arabica e no C. canephora, junto com Ramon Vidal (também da Unicamp), Jorge Mondego, do Instituto Agronômico de Campinas, e David Pot, do centro de pesquisas francês Cirad.

      Já era esperado um considerável grau de esquisitice no genoma do C. arabica. É que quando as duas espécies "mães" da planta se cruzaram há cerca de 1 milhão de anos, o material genético do vegetal-filho foi duplicado.

      Em vez de duas cópias de cada cromossomo, como ocorre com os seres humanos, o genoma do C. arabica tem quatro cópias de cada cromossomo. "Só que a diferença de origem se manteve. É como se houvessem dois subgenomas", diz Pereira.

      Esse fenômeno se manifesta até no nível dos tecidos da planta -é como se boa parte dos frutos derivasse apenas da "receita" presente numa das espécies ancestrais, enquanto as raízes viessem da outra espécie-mãe.

      No caso, a maneira como a planta comercial processa moléculas como carboidratos e alcaloides parece depender, em grande medida, da C. eugenioides.

      Isso não é mera curiosidade: se quiserem plantas com mais qualidade, os produtores muito provavelmente vão precisar cruzar suas variedades com a planta. "E hoje ela é totalmente negligenciada. Para achar um exemplar aqui no Brasil foi um custo", diz Pereira, brincando que ela "é praticamente um matinho".

      Para o especialista, o conhecimento pode dar um empurrãozinho na qualidade da safra cafeeira do Brasil, que hoje produz poucos cafés considerados mais finos.

      As pesquisas estão nas revistas científicas "Plant Physiology" e "BMC Plant Biology". A equipe recebeu apoio do Consórcio Pesquisa Café e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).



Fonte: REINALDO JOSÉ LOPES - EDITOR DE CIÊNCIA

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